Em dias de sol – dias gloriosos de sol, Londres se traduz no dinamismo de suas ruas e nas misturas de suas incríveis culturas. E nesse clima de Copa, a dança das cores das bandeiras brasileira e inglesa toma a cidade. É nesse termômetro que Londres viverá o sonho de verão em 2014 – que o coração estrangeiro sinta o som da cuíca e a simpatia tupinquim. Deixemos a bola rolar…
Com a alma brilhando de sol e curioso sobre as horas do dia, o andarilho em mim desperta para o novo. A única salvação é cruzar Londres pelo simples desejo de tê-la sempre mais perto de mim. Na Fen Court encontra se o memorial da abolição do tráfico negreiro no Império Britânico – e sobre a história do Rev. John Newton, um traficante de escravos que virou pregador e abolicionista. O poema é cifrado em linguagem de pregão da bolsa de valores e com referências bíblicas do Antigo Testamento.

Gilt of Cain – A escultura comemora a abolição do tráfico negreiro, em 1807, processo inicial de abolição dos escravos durante o Império Britânico.
Por um caminho de arranha-céus, vidros refletindo o Narciso de suas mais belas formas, a cidade vai revelando a sua arquitetura humanista – soluções, dinâmica e estética, uma celebração entre o homem e as construções. Ao longo do caminho, o conservadorismo inerente a cultura britânica nos presenteia com a sua verve futurista e nos apresenta lápides de um passado heróico com informações sobre moradores e ou prédios antigos de sua história, “nossas casas os seus próprios biógrafos”, The Times, 1873. É passado a limpo!
Há em Londres, longe dos clássicos monumentos da bela região central, bairros que retratam a urbanização e os grandes programas imigratórios da coroa britânica. E seguindo o destino através da CS3 – ciclovia que liga Tower Gateway a Canary Wharf, localizada no distrito de Tower Hamlets prova ser um trajeto excitante, revelador e rápido, apenas 25 minutos. Pela sua vizinhança Londres agrega o mundo. A pluralidade dos residentes da região de Tower Hamlets vai desde bengalis, somalis, vietnamitas a caribenhos e outros. O distrito é o terceiro mais populoso da Inglaterra, o mais rápido em crescimento de natalidade, 37% de sua população é jovem e tem a menor percentagem de aposentados da Inglaterra de acordo ao último censo. Faltam me as palavras para traduzir esse pedacinho babilônico de Londres. Só vendo.

Lowell St, Limehouse
O leste londrino é também marcado pelas convulsões do autoritarismo do século passado. Em Tower Hamlets mais especificamente na Cable Street, há a lembrança da Batalha de Cable Street, conflito entre a extrema-direita e os anti-fascistas em 1936. Esse conflito oferece dissonância na sua interpretação pois para muitos é a representação da vitória contra a extrema-direita contudo para outros, o evento impulsionou o fascismo doméstico e anti-semitismo.

Batalha de Cable Street
Um mural em comemoração ao evento expõe a união de forças da comunidade judaica, dos comunistas, dos sindicatos, membros do Partido dos Trabalhadores, de estivadores e outros contra o fascismo liderado por Oswald Mosley. Cable Street é acima de tudo o retrato do solo fértil da união de credos, etnias e culturas londrinas.

Mural de comemoração da Batalha de Cable Street.
Nesse ritmo de encontros e descobertas, Canary Wharf já aponta a demasia de seu concreto e do alto de seu pier, a visão da Cidade de Londres na linha do horizonte é a recompensa da aventura e o mais puro deleite da alma. O que mais desejar? Um céu lindo de luz, sempre!
Até breve!
Ao Pé de Londres, turismo à sua medida.